[Resenha] Boca do Inferno

10 de março de 2014


















Boca do Inferno
Ana Miranda
Companhia de Bolso, 2006 
303 páginas

No romance Boca do Inferno Ana Miranda faz uso da ficção e da História para mostrar o panorama histórico, político e religioso da Bahia do século XVII, apontando as principais características do Barroco Brasileiro e traçando um perfil bibliográfico do principal autor deste período literário, Gregório de Matos. Ao longo da leitura podemos observar a forte influência de Portugal no contexto social, político, histórico, religioso e cultural que o Brasil sofreu na época em que era colônia portuguesa, e que até hoje reflete em nossa sociedade.

RESENHA
A História ocorre em volta do assassinato de Francisco de Teles, alcaide-mor da cidade em que um grupo de conspiradores armam uma emboscada, na qual arrancam a mão direita de Francisco de Teles de Menezes e logo em seguida, Antonio de Brito, um dos conspiradores, corta a garganta do alcaide. Os conspiradores refugiam-se no Colégio dos Jesuítas.
Antonio de Souza, governador da Bahia conhecido como Braço de Prata, é avisado do crime e inicia uma perseguição contra todos os envolvidos. Os homens do Braço de Prata invadem o Colégio dos Jesuítas e prendem todos os que lá se refugiavam, incluindo Antonio de Brito, que é torturado e acaba por delatar todos os envolvidos no crime. Padre Antonio Vieira também será perseguido, entretanto por pertencer à Igreja e por sua influência religiosa não é preso. Seu irmão, Bernardo Ravasco, é perseguido, preso e destituído do cargo de Secretário de Estado, tendo seus escritos e algumas sátiras de Gregório confiscados pelo governador.
Antes de sua prisão, Bernardo Ravasco havia solicitado a Maria Berco, dama de companhia de sua filha Bernardina Ravasco, que desse um fim à uma trouxa de panos que continha a mão do alcaide, pedindo que a jogasse em um local que ninguém pudesse encontrar. Curiosa, Maria Berco acaba por abrir a trouxa, mesmo tendo recebido instruções para não o fazer, e vê dentro dela a mão do alcaide e em um dos dedos um valioso anel. Ela cai em tentação e acaba pegando para si o anel e quando descoberta é presa. Gregório, após a prisão de Bernardo Ravasco, torna-se responsável por proteger Bernardina Ravasco. Diante de inúmeros acontecimentos ele apaixona-se por Maria Berco.
Rocha Pita é nomeado desembargador para investigar o crime do alcaide. Por ser mais conveniente para os políticos, são soltos todos os envolvidos no crime, exceto Maria Berco. Gregório procura a todo custo libertá-la, mas para isso é necessário que o marido, João Berco, pague uma fiança no valor de 600 mil réis. Gregório o procura e o convence de assinar os papeis para libertar Maria Berco. O avarento João Berco afirma não ter tal quantia, assim Gregório assume a responsabilidade pelo valor da fiança. No dia do julgamento, João Berco é assassinado. Gregório, com muita dificuldade, consegue libertar Maria Berco. Pouco depois o governador, Antonio de Souza é destituído de seu cargo.
O poeta Gregório de matos tinha fama de canalha e indecoroso, ele próprio se dizia de mal caráter: “Não posso votar a Deus o que me é impossível cumprir pela fragilidade de meu caráter.” (MIRANDA, 2006, p.211). Escrevia sátiras nas quais fazia críticas mordazes aos políticos e a alguns padres. Utilizava suas sátiras como uma forma de protesto.
Mostrava-se contraditório, pois dizia pedir a Deus que o mundo se tornasse justo, mas dormia com prostitutas e seus pensamentos eram profanos. Era contraditório também com relação às mulheres, ora sentia ódio por elas, ora sentia amor. Ele dizia procurar uma mulher para casar, mas fornicava com todas as mulheres que por ele se deixavam seduzir e ainda descrevia publicamente o que ocorria e com quem.
Gregório não se mostrava arrependido por seu comportamento indecoroso, para ele aquela época era de vícios, e considerava os vícios como virtudes. O poeta é o retrato do homem barroco, homem este considerado dual, pois tinha duas concepções de mundo, uma religiosa e outra pecaminosa. Por seu comportamento desmedido de pudor e por suas poesias e sátiras, Gregório fora apelidado de Boca do Inferno, mas no romance a autora Ana Miranda o defende, afirmando que Boca do Inferno não era o poeta, mas a cidade da Bahia.

CRÍTICA
Ao longo da leitura observamos que o homem daquela época estava dividido entre manter-se dentro dos costumes da Igreja Católica e satisfazer os seus prazeres carnais. O perfil do barroco brasileiro revela-se a partir das atitudes e comportamentos das pessoas que viveram àquela época. Os autores do barroco viveram em uma época em que a religiosidade e a virtude davam lugar para a corrupção, e para atitudes e comportamentos extravagantes, e profanos. Era por meio da literatura que criticavam tais atos.
O romance Boca do Inferno é rico, pois a autora descreve de forma sucinta e clara o cenário, os personagens e acontecimento, o que nos faz adentrar na história e perceber o quanto podemos aprender sobre a História do Brasil, na época em que era colônia de Portugal, por meio da literatura. Contudo, o livro é cheio de palavras e expressões advindas do português arcaico e outras não mais utilizadas, o que dificulta a compreensão.  Apesar disso, a obra contribui de forma significativa para uma melhor compreensão do Barroco Brasileiro e através dela pode-se traçar também um panorama histórico, político e econômico do Brasil do século XVII. 

4 comentários:

  1. Muito boa sua resenha, não conhecia esta autora, nem sua obra. Sua resenha nos possibilita dar uma espiadinha na história, mostrando a riqueza de detalhes que esta obra com certeza tem. Já anotei e entrará na minha lista de leituras deste ano. Bjos.
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    http://liza-pink.blogspot.com.br/

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  2. Amei a resenha *---*
    Eu sou fanatica por livros sabe? Sempre quero mais um, depois dessa resenha vou correr na livraria para comprar :)

    Beijos
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    http://oqueecute.blogspot.com.br/

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  3. Eu sou Fanatica por livros sabe?
    Sempre estou atras de mais um.
    Amei :)

    Beijão! FB
    http://oqueecute.blogspot.com.br/

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  4. Olá flor?
    Adorei sua resenha!
    Goste de livros assim que retratam certa época do nosso brasil, que nos trazem uma bagagem boa e significativa!
    Bjos
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    www.mundo-d-moda.com

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