Discutindo a Literatura: Uraguai e Caramuru

8 de fevereiro de 2014
Todos os domingos, aqui no A&P, teremos a coluna Discutindo a Literatura, na qual discutiremos temas relacionados à literatura de um modo geral, principalmente os clássicos. Para dar início, hoje discutiremos as obras Uraguai e Caramuru.
O poemeto Uraguai de Basílio da Gama foi publicado no ano de 1769. Além de ser considerado um dos principais poemas épicos da Arcádia Brasileira, Uraguai é a obra mais conhecida deste autor.
O Uraguai se encaixa melhor na estrutura do poema lírico-narrativo do que épico, pois não segue a estrutura formal clássica das obras épicas. A obra está dividida em cinco cantos, em versos decassílabos heroicos e sáficos, brancos e sem estrofação.
Nesta epopeia, Basílio faz uso do aqui e agora para narrar a luta entre portugueses e espanhóis contra índios e jesuítas que, instalados nas missões jesuítas do atual Rio Grande do Sul, não queriam aceitar as decisões do Tratado de Madri. Basílio tenta conciliar o heroísmo do indígena e a louvação de Pombal. Faz recair sobre os jesuítas a pecha de vilões ao apoiar abertamente o Marquês contra os religiosos.

A quase contemporaneidade dos sucessos cantados retira ao poema a aura de mito que arca a epopeia tradicional, mas dá-lhe a garra do moderno, imergindo o leitor do tempo nos motivos mais candentes: o jesuitismo, a ação de Pombal, os litígios de fronteiras, a altivez guerreira do índio...
(BOSI, 2006, p.65)

Em resposta ao Uraguai é publicado em 1781 o poema épico Caramuru do poeta árcade Santa Rita Durão. Diferentemente do Uraguai, Caramuru é um poema épico que segue a estrutura formal clássica das obras épicas. Possui dez cantos com estrofes de oito versos decassílabos e rimados. A narrativa divide-se em Proposição, Invocação, Dedicatória, Narração e Epílogo. Esta epopeia narra o descobrimento da Bahia, o naufrágio de Diogo Álvares Correia, herói do poema alcunhado o Caramuru pelos Tupinambás, narrado também seus amores com a índia Paraguaçu.
Uma das características que diferem o Caramuru do Uraguai refere-se à figura do índio, pois apesar de ambos terem personagens indígenas, no Uraguai o índio é visto como uma figura heroica e representativa dos valores da liberdade e da vida natural, enquanto que em Caramuru o índio é tratado como um objeto de colonização e catequese. O índio é abordado em Caramuru como inferior ao contrário do Uraguai, pois para Basílio o índio é vitima da perfídia escravizante dos jesuítas.
Além disso, outro aspecto que diferem as obras refere-se ao modo como seus autores vêem a figura do Marquês de Pombal, no Uraguai Basílio faz elogios e honras ao Marquês porque este perseguia aos missionários. Em Caramuru o período pombalino é visto como uma época de horrores.
Mesmo tendo sido escrito em resposta ao Uraguai, Caramuru difere-se e muito deste principalmente quanto aos recursos literários e pela linguagem. Enquanto em Uraguai Basílio utiliza o aqui e agora para narrar os acontecimentos, no poema Caramuru Santa Rita Durão retoma a acontecimentos históricos. Em ambas as obras há  a presença de momentos líricos, como a morte de Lindóia no Uraguai e a morte de Moema no Caramuru.

Referências:
CANDIDO, Antonio. Na sala de aula: caderno de análise literária. 8ª Ed. São Paulo: Ática, 2002.

BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 43ª Ed. São Paulo: Cultrix, 2006.

FARACO, Carlos Emílio; MOURA, Francisco Marto Moura. Língua e Literatura. V.1. 31ª Ed. São Paulo: Editora Ática, 2000.


Tem alguma dúvida a respeito do tema abordado neste post? 
Quer sugerir algum tema para ser abordado?
Deixe sua dúvida ou sugestão nos comentários.
Beijos e até mais!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Theme Base por Erica Pires © 2013 Personalização por Kalita Rossy| Powered by Blogger | Todos os direitos reservados | Melhor Visualizado no Google Chrome | Topo